Entrevista a Ana Free

Ana Free é um fenómeno. Passado um ano após a publicação dos primeiros vídeos no YouTube, é descoberta pela Antena 3 e desde esse momento a sua popularidade não mais parou de crescer. Numa conversa descontraída, Ana explica-nos como tudo aconteceu e como tem reagido a toda a recente atenção em seu redor.

Como é que a Ana Gomes Ferreira se tornou a Ana Free?
Estava um dia em casa e decidi por um vídeo no YouTube, e achei que Ana Gomes Ferreira não era um nome que tivesse muito marketing, então surgiu Ana Free.

Porquê Ana Free?
Free, porque soava bem na altura e gostei da ideia. Também pelo seu significado, mas mais porque soava bem...

Escreves e compões música desde os 11 anos. Sempre em inglês?
Acho que consigo escrever melhor em Inglês. Estou à espera do dia em que consiga fazer justiça a uma música em português. Ainda não aconteceu, já tentei, mas ainda não ganhei o hábito de escrever em português.

Sei que aprendeste guitarra com o teu pai. Mas já tiveste aulas de canto?
Sim, aprendi os primeiros acordes com o meu pai. Nunca tive aulas de canto, mas preciso de ter... Tive aulas de respiração, de como controlar a voz através da respiração. No Colégio, para uma peça de teatro, tirei uma aula ou duas de canto, mas não foi o suficiente para aprender.

No concerto na Fábrica Braço de Prata demonstraste uma grande segurança com a tua voz. É a voz o teu principal instrumento de trabalho?
Teria de dizer que sim... Canto mesmo sem o acompanhamento da guitarra, ou quando escrevo já estou a cantar.

Como compões? Primeiro surge a letra e depois a música?
Depende, por vezes vêm os acordes depois a letra, às vezes surge primeiro a letra ou então surgem ambos em simultâneo.

Como surgiu a vontade de partilhares a tua música com mais pessoas, através do YouTube?
Coloquei o primeiro vídeo no YouTube sem nenhuma intenção, só para ver no que dava. Mas não o teria feito se não estivesse preparada para aquilo que poderia acontecer. Seria muito estúpido fazê-lo sem ter a noção do que era possível acontecer.

Tinhas confiança nas tuas capacidades...
Tinha... mas se não tivesse acontecido nada, teria tentado de outra maneira.

As canções que vais colocando no YouTube funcionam como um diário?
Não são um diário. Porque tanto sou capaz de cantar uma música que fiz quando tinha 16 anos como uma que escrevi ontem. As minhas músicas são uma história, uma fase da minha vida, mas não há uma correspondência temporal entre o momento em que as criei e o momento em que as tornei públicas. Mas são canções muito autobiográficas.

Tens noção do efeito que a tua música pode ter em quem a ouve?
Não tenho propriamente essa noção. Mas depois é claro, quando as pessoas me escrevem a dizer coisas intensas: “curaste-me os problemas de uma relação” ou “estava a sentir-me muito em baixo durante meses e meses” ou “peguei na minha guitarra depois de cinco anos sem tocar nela a seguir a ver o teu vídeo”. O alcance da internet é enorme, global, tenho pessoas que me ouvem na Austrália, Indonésia... é um pouco estranho para mim. Tenho um fã na Malásia... (risos)

Sabes quem são os teus fãs, que idade têm?
Serão maioritariamente entre os 15 e os 25, ás vezes mais até...

Após a estreia ao vivo em Portugal na Fábrica Braço de Prata, o que esperas do concerto de Setembro no Musicbox?
Espero divertir-me, estar menos nervosa do que da primeira vez... Espero coisas boas... A audiência é sempre diferente, o sítio também é diferente. Espero cantar melhor, ter melhor equipamento de som.

Os teus vídeos no YouTube tiveram cerca de 600 mil visitantes no último ano. Pensas que por isso sentirás uma pressão adicional nos espectáculos ao vivo?
Não sinto essa pressão. As pessoas estão espalhadas pelo mundo. 600 mil visitantes também não significam 600 mil pessoas que gostam da minha música, porque várias pessoas visualizam repetidamente os meus vídeos. A pressão que sinto tem que ver com as pessoas que vieram explicitamente ver o meu concerto, pagaram para me ver e eu tenho de estar altura, de dar o meu melhor, de me entregar totalmente, nem sempre é fácil.

Como achas que vais reagir quando te começarem a abordar no fim dos concertos?
Não sei, será normal. Agradecer o apoio, o facto de terem vindo. Não é nada difícil, é ser simpática, falar... Se quem vier ter comigo estiver bastante nervoso tentarei pô-la mais descontraída...

Ser simpático is part of the job...
Não, é natural. Há artistas que são um pouco... stick up the ass... Um concerto é um evento, é um negócio. Tenho de ser profissional e terra-a-terra com as pessoas, sejam elas quem forem...serão como eu, iguais a mim.

Quais são os critérios para escolher as covers que vais fazendo?
Escolho sempre uma música de que gosto, mesmo que não sejam muito conhecidas. Por exemplo - Van Morrison - fiz o cover do Bright Side Of The Road sabendo que poderia não ser conhecida de grande parte do meu público. Tenho tendência para colocar no YouTube covers de músicas de que gosto, essencialmente esse é o critério principal. Também existem canções que adoro, mas que não me sinto capaz de lhes fazer justiça...

É importante fazer justiça ao original?
Sim. Não sei se tenho feito justiça a muitas das músicas que tenho interpretado. Muitas vezes, não tenho muito tempo para trabalhar as músicas que escolho e posteriormente ponho o YouTube.

Colocar vídeos no YouTube já faz parte da tua lista de tarefas diárias?
Não sinto que seja uma obrigação, mas já estou habituada. É um processo natural, em que tenho de aprender a letra, os acordes e tentar fazer com que a música fique interessante.

Como foi colaborar com o NBC? O hip hop é uma influência para ti?
Foi bom, mas nunca cheguei a estar com ele. Gosto muito de hip hop, gosto de vários géneros de música: rock, pop, r’n’b, reggae, algum metal também... Metallica.

Algumas pessoas comparam-te com a Nelly Furtado. Vês-te a fazer um percurso semelhante ao dela? Começando com um som mais acústico, para depois abraçares sons mais dançáveis, como o hip hop ou o r’n’b.
Não me importo que me comparem com a Nelly. As pessoas precisam de pontos de referência, é normal. Não sei se vou conseguir mudar o meu estilo musical por inteiro. A Nelly mudou por completo o seu estilo...

Já recusaste convites de algumas editoras. Colocaste os estudos à frente da música?
Não recusei, adiei essas propostas. Na altura estava na Faculdade e não queria deixar o curso para trás, queria ter a segurança de ter uma licenciatura.

Ter um curso permite-te ter os pés bem assentes na terra...
Acho muito importante ter uma educação... há tanta gente mal-educada no mundo (risos). Muitas pessoas pensam que as oportunidades só vêm uma vez. Outras porque são infelizes a estudar, não aguentam mais... Eu não quero fechar nenhuma porta, quero deixar todas as portas abertas.

Para quando o primeiro álbum? Que canções irão fazer parte?
Quanto mais cedo melhor. Fazer um álbum é um processo que deve demorar um ano, no mínimo. Vou reunir as músicas que gosto e que ficarão bem com o vibe do álbum.

Já tens alguma experiência de estúdio. Como achas que vais reagir ao trabalho em estúdio para o teu primeiro álbum? Trabalhar com outros músicos...
O meu primeiro contacto com um estúdio foi aos 14 anos. Tivemos de fazer uma música no Colégio, uma musiquinha... Não sei como vou reagir quando tiver de entrar num estúdio mais a sério. Estou a fazer as coisas devagarinho, quero que seja assim, se não vou perder o norte e o meu progresso. Se não for deste modo as coisas podem começar a distorcer um bocado. É importante perceber exactamente o que se está a passar à tua volta. Especialmente na música, em que se tudo se move incrivelmente depressa.

A tua música é claramente de raiz anglo-saxónica. Vês-te a fazer carreira por outros países para além de Portugal?
Quero começar em Inglaterra, mas quero fazer uma carreira global. Nos países anglo-saxónicos sou capaz de ter mais popularidade, mas não me quero estabelecer num determinado país. Acho que vou ter de viver em Londres ou nos Estados Unidos durante algum tempo, até conseguir ver se isto vai dar certo ou não... E daí viajar e tocar em sítios diferentes. Londres é um sítio bom. Com uma competição ridícula também, mas é um centro importante, um centro-chave.

Tens apenas 21 anos e imensas possibilidades, várias janelas para abrir...
Quando me sinto mal penso nisso. Ainda sou nova, tenho tempo, há várias maneiras de fazer isto...

A tua música transparece uma grande leveza, e nesse sentido parece-me honesta, um reflexo da tua vida. Como achas que serão as tuas canções daqui a 5 ou 10 anos?
Não faço a menor ideia. Essa é uma pergunta muito difícil... Não faço ideia pelo que vou passar...

Mas nos próximos anos passarás por outras experiências, talvez mais intensas. Vais manter a mesma honestidade com a tua música?
Sim, vou tentar ser honesta. As pessoas têm tendência para dizer que este ou aquele artista é sold out. Mas na realidade eles não se venderam, apenas mudaram, porque todos crescemos, temos as nossas experiências. No mundo da música - como em qualquer outra carreira - não vais ser a mesma pessoa para o resto da vida. No fundo, tenho todo o direito de escrever as músicas que sinto. Aos trinta anos não vou poder pensar, nem agir, nem reagir como se tivesse vinte e um... É sempre melhor ser honesta, porque assim não tens que te justificar nem te lembrar das mentiras que contaste. Just be honest, as pessoas que apreciam vão apreciar, as que não... Pronto, também têm a sua vida, não é?

"In My Place"

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